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Brasil e Malásia: Parceria Estratégica Impulsiona a Produção de Semicondutores

O Brasil e a Malásia firmaram um acordo histórico de cooperação para a produção de semicondutores. A parceria visa fortalecer a indústria nacional, reduzir a dependência externa e inserir o Brasil na cadeia global de valor, com foco estratégico nos setores automotivo e de transição energética.

Caio Vinicius F. Cunha
Caio Vinicius F. Cunha
Analista de Tecnologia e Inovação
29 de outubro de 2025
5 min de leitura
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Brasil e Malásia: Parceria Estratégica Impulsiona a Produção de Semicondutores

 

Os semicondutores, popularmente conhecidos como chips, são componentes vitais para a economia moderna, presentes em tudo, de smartphones a veículos elétricos. Em um movimento estratégico para garantir a soberania digital e fortalecer a reindustrialização, o Brasil firmou uma nova e robusta parceria com a Malásia, um dos gigantes globais do setor.

 

Em outubro de 2025, durante uma visita oficial a Kuala Lumpur, foi assinado um memorando de entendimento que estabelece as bases para uma cooperação profunda. Mais do que um acordo comercial, a iniciativa visa reconstruir a cadeia produtiva nacional de microeletrônica. Este artigo detalha os pilares dessa aliança e o impacto esperado para a indústria de tecnologia nacional, incluindo a retomada da produção de semicondutores em solo brasileiro.

 

Os Pilares do Memorando de Entendimento

O acordo assinado entre o Brasil e a Malásia, que é o sexto maior exportador de semicondutores do mundo, estabelece uma agenda clara de colaboração. O memorando de entendimento (MoU), firmado em 25 de outubro de 2025, tem validade inicial de dois anos, com possibilidade de renovação automática.

 

A cooperação não se limita apenas à fabricação, mas abrange áreas cruciais para o desenvolvimento tecnológico sustentável. Os principais eixos do acordo incluem:

  • Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Conjuntos: Fomento a projetos de pesquisa colaborativos entre os dois países.
  • Desenvolvimento de Talentos: Um dos pontos centrais é a formação de capital humano. O acordo prevê o intercâmbio de especialistas e programas de treinamento para profissionais brasileiros, permitindo a absorção de conhecimento técnico avançado.
  • Fortalecimento da Cadeia de Suprimentos: A parceria visa robustecer a cadeia de suprimentos de semicondutores entre as nações, mitigando riscos de desabastecimento.
  • Cooperação Ampliada: Além dos chips, os acordos firmados durante a visita presidencial também englobam avanços em inteligência artificial e tecnologias para a transição energética.

 

A Joint Venture: O Nascimento de uma Nova Fábrica

O pilar mais concreto dessa cooperação é a negociação para a criação de uma joint venture (empresa conjunta) focada na produção de semicondutores. A iniciativa está sendo estruturada entre a empresa brasileira Tellescom Semicondutores e uma parceira estratégica da Malásia.

 

O que é uma Joint Venture?

Uma joint venture é um modelo de parceria empresarial estratégica. Nela, duas ou mais empresas independentes decidem unir recursos (como capital, tecnologia ou canais de distribuição) para criar uma nova entidade ou realizar um projeto específico em conjunto. O objetivo é alcançar um objetivo comercial comum, compartilhando os custos, os riscos e também os lucros dessa nova operação. No caso Brasil-Malásia, permite ao Brasil acessar a expertise tecnológica da Malásia e à Malásia explorar um novo mercado.

 

Investimento e Escopo Tecnológico

Este projeto prevê a instalação de uma nova fábrica no estado do Rio Grande do Sul. A agência de investimentos do estado, a Invest RS, já assinou um termo de engajamento para apoiar a Tellescom na concretização do negócio.

 

Os detalhes financeiros e técnicos do projeto demonstram sua ambição:

  • Investimento: A estimativa de investimento para a nova planta fica entre US$ 170 milhões e US$ 200 milhões.
  • Cronograma: A expectativa é que a construção da fábrica seja iniciada no começo de 2026, com um prazo de cerca de três anos para atingir a operação plena.
  • Foco da Produção: A fábrica não atuará na produção inicial (design e fabricação de wafers), mas sim no chamado back-end: o encapsulamento e teste dos semicondutores.
  • Tipo de Chip: O foco será em chips de "não memória" (non-memory chips), que são essenciais para processamento de dados e funções lógicas, diferentemente dos chips de armazenamento.

 

Foco Estratégico: Setor Automotivo e Transição Energética

A escolha dos mercados-alvo para a nova fábrica está diretamente ligada aos gargalos recentes da indústria global e às metas de desenvolvimento do Brasil. A crise de abastecimento de chips afetou severamente a produção de veículos nos últimos anos, e o governo brasileiro busca ativamente evitar futuras paralisações nas montadoras.

 

Durante a visita à Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou empresários locais a investir no Brasil, destacando a preocupação com o setor automotivo.

 

Como resultado, a produção da joint venture da Tellescom será direcionada prioritariamente para setores de alta demanda:

  1. Indústria Automotiva: Especialmente para veículos elétricos e híbridos.
  2. Telecomunicações: Componentes para comunicação sem fio.
  3. Internet das Coisas (IoT): Dispositivos conectados.

 

Essa estratégia se alinha à missão do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), que também está sendo reativado como parte do plano de soberania digital. O Ceitec, por sua vez, está avançando em novas rotas tecnológicas com investimentos da Finep, como a produção de dispositivos de potência em carbeto de silício (SiC), cruciais para a eficiência da transição energética.

 

Conclusão

O acordo Brasil-Malásia representa um marco na estratégia brasileira de reindustrialização tecnológica. Ao se aliar a um dos maiores players globais, o Brasil não busca apenas comprar componentes, mas sim absorver tecnologia, formar especialistas e reconstruir sua capacidade interna de produção de semicondutores.

 

A criação da joint venture liderada pela Tellescom e a reativação do Ceitec são passos fundamentais para reduzir a dependência externa e posicionar o país como um protagonista relevante na cadeia de valor da tecnologia, especialmente nos setores automotivo e de energia limpa.

 

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Fontes

  • https://www.brasildefato.com.br/2025/10/27/brasil-e-malasia-planejam-criar-empresa-conjunta-para-producao-de-chips/
  • https://timesbrasil.com.br/mundo/brasil-e-malasia-fecham-acordo-para-cooperacao-em-semicondutores/
  • https://investrs.org.br/invest-rs-assina-termo-de-engajamento-com-empresa-para-criar-fabrica-de-semicondutores/
  • https://www.jornaldocomercio.com/colunas/mercado-digital/2025/05/1201261-rs-e-malasia-estreitam-relacao-e-ideia-da-fabrica-de-semicondutores-avanca.html
  • https://www.opiniaoce.com.br/brasil-e-malasia-fortalecem-cooperacao-em-tecnologia-e-inovacao/
  • https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2025/10/brasil-fortalece-parceria-com-a-malasia-e-amplia-presenca-tecnologica-na-asia
  • https://pt.org.br/faz-o-l-governo-brasileiro-fortalece-cooperacao-tecnologica-com-a-malasia/
  • https://static.poder360.com.br/2025/10/brasil-malasia-ato-1-semicondutor.pdf
  • https://www.ocafezinho.com/2025/10/28/brasil-e-malasia-negociam-joint-venture-para-producao-de-semicondutores-e-avancam-em-acordos-de-tecnologia/
  • http://www.ceitec-sa.com/pt
  • https://www.autodata.com.br/noticias/2025/10/27/lula-assina-acordos-e-convida-malasia-a-investir-em-semicondutores-no-brasil/95905/
  • https://sitepd.org.br/2025/10/27/acordo-brasil-malasia-semicondutores/

 

Tags: produção de semicondutores, Brasil Malásia, joint venture, Tellescom, Ceitec, indústria automotiva, transição energética, soberania digital

Caio Vinicius F. Cunha

Caio Vinicius F. Cunha

Analista de Tecnologia e Inovação

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