Segurança Pública no Rio de Janeiro: O Paradoxo da Smart City
O Rio de Janeiro investe bilhões para se tornar uma "Smart City", focada em IA e vigilância. Contudo, a cidade enfrenta operações de segurança com letalidade recorde. Analisamos o complexo papel da tecnologia neste cenário de segurança pública no Rio de Janeiro.

O Rio de Janeiro vive uma dualidade marcante. De um lado, apresenta projetos ambiciosos para se consolidar como um polo de inovação, exemplificado pelo "Rio AI City", um hub de data centers com investimentos anunciados de 65 bilhões de dólares. O objetivo é transformar a cidade em referência em tecnologia e inteligência artificial. Do outro lado, a cidade enfrenta desafios crônicos de segurança pública, evidenciados pela megaoperação policial de 28 de outubro de 2025, classificada como a mais letal da história do estado.
Este artigo analisa esse paradoxo: como a busca por um futuro "smart" colide com a realidade de uma política de segurança baseada no confronto e quais os limites da tecnologia para solucionar problemas estruturais.
A Visão da "Smart City": Investimento em IA e Vigilância
O Rio de Janeiro tem buscado ativamente o selo de "cidade inteligente". Em 2021, foi reconhecido como a 1ª capital em Tecnologia e Inovação no Ranking Connected Smart Cities. Os investimentos recentes buscam solidificar essa posição.
O principal projeto é o "Rio AI City", anunciado pela prefeitura, que visa criar o maior hub de data centers da América Latina no Parque Olímpico. Com capacidade inicial estimada em 1,5 gigawatts até 2027, o projeto foca em sustentabilidade e energia limpa para atrair empresas de tecnologia e fomentar o uso de inteligência artificial.
Paralelamente, a cidade expandiu seu Centro de Operações Rio (COR), considerado o maior centro de monitoramento urbano da América Latina. A infraestrutura inclui milhares de câmeras, sensores e pontos de wi-fi integrados para gestão urbana e segurança. A central de vigilância CIVITAS, inclusive, recebeu um prêmio internacional. O plano prevê a ampliação da capacidade tecnológica com mais câmeras inteligentes e sistemas de monitoramento baseados em IA até 2028.
A Realidade do Confronto: A Megaoperação Mais Letal da História
Em forte contraste com a imagem de inovação tecnológica, o dia 28 de outubro de 2025 foi marcado por uma megaoperação nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha. A ação, que mobilizou cerca de 2.500 policiais civis e militares, tinha como alvo o Comando Vermelho, incluindo lideranças de outros estados.
O resultado foi o mais letal da história do estado: 64 mortes, sendo 4 de policiais, e 81 prisões. A operação gerou intensos confrontos e teve grande impacto na vida da população, com bloqueio de vias importantes e interrupção de serviços em escolas e unidades de saúde.
Tecnologia no Fogo Cruzado: Drones e Críticas Sociais
A tecnologia não se mostrou apenas uma ferramenta do Estado, mas também um instrumento no conflito. Durante os confrontos de outubro de 2025, foi relatado que criminosos utilizaram drones para atacar as forças de segurança. Isso demonstra que a modernização tecnológica não é unilateral e que grupos criminosos também se adaptam taticamente.
Embora o objetivo declarado da operação fosse conter o avanço da criminalidade, a estratégia levanta críticas severas. Organizações de favelas e ONGs alertam para os efeitos desiguais e violentos dessa política de segurança.
A crítica central é que "segurança não se faz com sangue". Entidades apontam que essas ações afetam de forma desproporcional territórios negros e periféricos. Fica a questão de como investimentos bilionários em câmeras inteligentes e data centers podem coexistir com uma política de segurança pública que resulta na operação mais letal já registrada.
Conclusão
O cenário da segurança pública no Rio de Janeiro é um campo de contradições. A cidade investe maciçamente para se tornar uma "Smart City", apostando em IA e monitoramento avançado como pilares para um futuro mais seguro e eficiente.
Contudo, a realidade imediata, marcada por operações de guerra com recordes de mortes e o uso de tecnologia (drones) por facções, sugere que a tecnologia, por si só, não é a solução. O desafio do Rio de Janeiro não é apenas implementar data centers, mas integrar essas ferramentas a uma política de segurança que supere a lógica do confronto e responda às complexas demandas sociais da cidade.
Entender como gerenciar infraestruturas críticas de dados e aplicar inteligência artificial de forma ética e eficaz é fundamental nesse processo. A CFATECH acompanha de perto essas transformações, oferecendo soluções robustas para os desafios tecnológicos do presente e do futuro.
Fontes consultadas
- https://prefeitura.rio/ciencia-e-tecnologia/cidade-do-rio-de-janeiro-e-premiada-no-ranking-connected-smart-cities-2021/
- https://veja.abril.com.br/brasil/projeto-rio-ai-city-quer-transformar-capital-carioca-em-centro-de-referencia-em-tecnologia/
- https://evento.connectedsmartcities.com.br/releases/ranking-connected-smart-cities-2021-aponta-rio-de-janeiro-em-7o-lugar-entre-as-cidades-mais-inteligentes-do-pais-e-1o-em-tecnologia-e-inovacao/
- https://prefeitura.rio/cidade/civitas-recebe-premio-internacional-e-coloca-o-rio-como-uma-das-referencias-em-inteligencia-para-seguranca-publica/
- https://prefeitura.rio/noticias/rio-anuncia-o-projeto-rio-ai-city-o-maior-hub-de-data-centers-da-america-latina-e-um-dos-dez-maiores-do-mundo/
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-10/favelas-e-ongs-sobre-mortes-no-rio-seguranca-nao-se-faz-com-sangue
- https://record.r7.com/cidade-alerta/video/novas-imagens-mostram-chegada-de-presos-na-delegacia-em-megaoperacao-contra-o-crime-organizado-no-rj-28102025/
- https://www.cartacapital.com.br/sociedade/megaoperacao-contra-o-comando-vermelho-e-a-mais-letal-do-rio/
- https://record.r7.com/balanco-geral/video/policia-confirma-60-mortos-em-operacao-no-rio-de-janeiro-28102025/
- https://www.dw.com/pt-br/megaopera%C3%A7%C3%A3o-policial-deixa-dezenas-de-mortos-no-rio-de-janeiro/a-74531623
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/clyg64e15j0o
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2025-10/acao-no-rio-e-maior-em-15-anos-e-mais-letal
- https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/ultimas-noticias/
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/10/28/nota-mj-operacao-rio-de-janeiro.ghtml
- [Outras fontes não linkadas diretamente, mas mencionadas na síntese: prefeitura+4, agenciabrasil.ebc+7]
Tags: segurança pública no Rio de Janeiro, smart city, Rio AI City, tecnologia e segurança, violência urbana, CIVITAS, Comando Vermelho, data center, inteligência artificial

Caio Vinicius F. Cunha
Analista de Tecnologia e Inovação
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